A personagem Tieta, imortalizada na obra homônima de Jorge Amado, ganhou vida no audiovisual brasileiro por meio de adaptações que marcaram diferentes épocas. Mas a transição da história da televisão para o cinema gerou uma das maiores polêmicas nos bastidores da dramaturgia nacional, envolvendo as atrizes Betty Faria e Sonia Braga.
Em 1989, Betty Faria brilhou na novela Tieta, adaptada para a Globo por Aguinaldo Silva, Ana Maria Moretzsohn e Ricardo Linhares. A trama, que ganhará nova reprise no Vale a Pena Ver de Novo, foi um sucesso estrondoso, consolidando Betty como a “eterna Tieta” e transformando a personagem em um verdadeiro ícone cultural. Já em 1996, foi a vez de Tieta do Agreste chegar aos cinemas, sob a direção de Cacá Diegues. Para a surpresa de muitos, Sonia Braga foi escalada para viver a protagonista.
Sonia, que já havia marcado sua carreira com outras adaptações de Jorge Amado, como Dona Flor e Seus Dois Maridos (1976) e Gabriela, Cravo e Canela (1983), foi escolhida para ampliar o alcance internacional do filme.
Essa decisão, porém, não agradou nenhum pouco Betty Faria. Em várias entrevistas, Betty deixou clara sua insatisfação, lamentando não ter sido sequer consultada sobre a substituição. Em 2016, ela desabafou à revista Época: “Ela [Sonia Braga] não pediu licença para ser Tieta no cinema, e isso foi péssimo. A cada cidade que eu chegava, as pessoas comentavam que odiavam, ficaram indignadas”.
Por outro lado, Cacá Diegues explicou que a escolha de Sonia foi baseada em um fator decisivo: ela já havia adquirido os direitos cinematográficos de Tieta antes mesmo de a novela ser produzida. Além disso, sua reputação internacional foi considerada essencial para dar maior visibilidade ao filme fora do Brasil.
Apesar da polêmica, Tieta do Agreste foi bem recebido pela crítica, sendo elogiado pela abordagem mais próxima do tom político e social da obra original. No entanto, as comparações com a novela foram inevitáveis, já que a interpretação de Betty Faria havia deixado uma marca importante na televisão.
Para Betty, a substituição foi uma oportunidade perdida de levar sua Tieta para além das telas da TV. Já para Sonia Braga, o filme reforçou sua ligação com o universo de Jorge Amado e ajudou a consolidar sua trajetória no cenário internacional.
Colaborou: Renan Santos