
Este final de ano está sendo marcado por uma onda de calor intensa no Brasil — e a sensação acumulada é que o verão deixou de ser uma promessa de descanso e lazer para se tornar um desafio físico diário. No Sudeste, incluindo o estado do Rio de Janeiro e São Paulo, o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) mantém alerta vermelho para perigo de onda de calor, o mais alto entre os níveis de aviso, com temperaturas que estão cerca de 5 °C acima da média histórica para dezembro até pelo menos o dia 29 de dezembro. Correio 24 Horas
+ Análise: Por que as histórias de Natal mais interessantes não são sobre felicidade
O alerta vermelho abrange também partes do Espírito Santo, Minas Gerais, Goiás, Mato Grosso do Sul, Paraná e Santa Catarina, e há avisos em pelo menos oito estados brasileiros, incluindo todo o Sudeste. Na capital fluminense, o nível de calor foi classificado como nível 3 em uma escala que vai até 5, indicando que a temperatura está elevada e deve permanecer assim por vários dias seguidos no município.
Os impactos já aparecem em números e em relatos cotidianos: segundo levantamentos divulgados por veículos locais, na cidade do Rio de Janeiro quase mil atendimentos em unidades de saúde ocorreram possivelmente por sintomas relacionados ao calor, como fraqueza, tontura e desmaios, justamente após a capital entrar no nível 3 do protocolo meteorológico de calor.
A experiência de calor intenso se reflete também em outras capitais da região. Em São Paulo, por exemplo, as temperaturas chegaram a quase 36 °C na véspera de Natal, um recorde para o mês, segundo registros locais. E não se trata apenas de um episódio isolado: pesquisas e séries históricas apontam para uma tendência de verões mais quentes no Brasil nas últimas décadas, com várias ondas de calor afetando amplas áreas do território.
O que isso significa na prática? O calor intenso altera rotinas simples: dormir torna-se mais difícil, a disposição para tarefas cotidianas cai, e o corpo passa a comandar a experiência urbana de maneira inescapável. Não é apenas o desconforto de uma praia lotada, mas a sensação de que atividades comuns — trabalhar, caminhar, cuidar de crianças ou idosos — exigem mais esforço físico e mental do que o habitual.
E embora o litoral carioca ainda seja fotografado como cartão-postal nesta época do ano, a realidade do calor lembra que temperaturas elevadas não combinam automaticamente com lazer quando a sensação térmica pesa sobre quem está fora de casa ou exposto ao sol. Em várias regiões do país, a população está convivendo com um clima que ultrapassa a linha do agradável e entra no terreno da insalubridade perceptível no cotidiano.
+ Análise: O passado em repeat: a nostalgia millennial como sintoma cultural
Nessas condições, o verão — que por décadas se vendeu como sinônimo de prazer, espaço público de encontro e alívio — parece, neste momento, cumprir uma função diferente. Ao invés de promessa de descanso, é a situação que impõe limites, e que nos força a medir nossa própria rotina e nossos corpos diante de um termômetro que não baixa.
**As críticas e análises aqui expostas correspondem a opinião de seus autores






