
Na noite de 9 de dezembro de 2025, a Câmara dos Deputados viveu momentos de tensão que expuseram com nitidez o que muitos consideram uma escalada de hostilidade por parte do presidente da Casa, Hugo Motta (Republicanos-PB), contra a oposição e a imprensa. O pivô do conflito foi o deputado Glauber Braga (PSOL-RJ), que buscava interromper uma pauta controversa.
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Truculência, censura e expulsão da imprensa marcam atuação de Hugo Motta
O estopim foi o anúncio de que estaria sendo pautado o pedido de cassação do mandato de Glauber Braga — acusado pelo Conselho de Ética de agressão a um militante do MBL. Em protesto, o deputado ocupou a cadeira da presidência da Câmara. Pouco depois, agentes da Polícia Legislativa, a mando de Hugo Motta, o removeram à força. Testemunhas registraram a ação, que resultou em represália também contra jornalistas: a imprensa foi expulsa do plenário e o sinal da transmissão da TV Câmara foi abruptamente cortado.
Em entrevista logo após a retirada, Glauber criticou a diferença de tratamento entre ele e parlamentares bolsonaristas: “com os golpistas que sequestraram a mesa, sobrou docilidade; agora com quem não entra no jogo deles, é porrada” — referindo-se a episódios anteriores em que militantes de direita ocuparam a Mesa Diretora por 48 horas sem sofrer repressão. Ele chamou a atitude de Motta de desequilibrada e apontou a censura à imprensa como evidência de um movimento para calar vozes discordantes.
A reação contra a ação autoritária não demorou: entidades de defesa da liberdade de imprensa criticaram a remoção forçada de jornalistas como um “atentado à democracia”. Para muitos parlamentares e observadores, a questão ultrapassa o conflito institucional: trata-se de um ataque à transparência e ao papel fiscalizador da mídia.
Votação do PL da Dosimetria avança em meio a sigilo e manobras
Enquanto isso, sem muita transparência e já sob clima de tensão, a sessão foi reaberta — desta vez com a inclusão na pauta do PL da Dosimetria. O projeto, que vinha sendo pressionado politicamente, propõe a redução de penas para condenados pelos atos de 8 de janeiro de 2023 — entre eles o ex-presidente Jair Bolsonaro e outros condenados pelo envolvimento no que é considerado tentativa de golpe.
A tramitação “na calada da noite” — logo após o tumulto — e sem debates públicos adequados escancara um arranjo político de conveniência. A ideia de que opositores e imprensa foram tratados com truculência, enquanto pautas sensíveis são aprovadas com pressa e sigilo, reforça para muitos o risco real de retrocessos democráticos.
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O episódio marca um momento delicado para as instituições brasileiras: se no papel a Câmara é o palco da pluralidade, a combinação de violência física, censura e decisões legislativas estratégicas revela uma face agressiva de poder, capaz de intimidar oposição e silenciar a imprensa. A história recente mostra que o uso da força para garantir pautas — e não o debate — corrói a legitimidade da Casa, com consequências que vão muito além do mandato de um parlamentar.
**As críticas e análises aqui expostas correspondem a opinião de seus autores






