
Quanto vale uma vida? Até onde ir para reparar uma injustiça que atinge milhares de pessoas doentes? Em ‘Três Graças’, a próxima novela das nove da TV Globo, o público vai acompanhar, a partir do dia 20 de outubro, os desafios que movem Gerluce (Sophie Charlotte) e o dia a dia intenso dessa mulher forte, esperançosa e de pensamento positivo, numa São Paulo que abriga milhões de brasileiras como ela.
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Moradora da Chacrinha, comunidade fictícia na capital paulista, Gerluce integra uma família de mães solo, as três Graças: é filha de Lígia Maria das Graças (Dira Paes) e mãe de Joélly Maria das Graças (Alana Cabral). Gerluce abdicou dos seus sonhos, entre eles o de cursar uma faculdade, para se dedicar à criação de Joélly, na tentativa de garanti-la um futuro promissor, diferente do seu e de sua mãe. Mas, quando a gravidez da adolescente se confirma, ela fará de tudo para impedir que a filha desista dos seus projetos e ambições.
A obra, criada e escrita por Aguinaldo Silva, Virgílio Silva e Zé Dassilva, com direção artística de Luiz Henrique Rios, apresenta uma trama repleta de humanidade e esperança, que mistura drama, tragédia, romance, mistério e toques de humor. Criador de histórias marcantes e personagens icônicos, como as vilãs Perpétua, de ‘Tieta’, e Nazaré Tedesco, de ‘Senhora do Destino’, de mulheres fortes, como Tieta, da novela homônima, e dos carismáticos Crô de ‘Fina Estampa’ e o comendador Zé Alfredo, de ‘Império’, entre muitos outros, Aguinaldo está de volta ao horário nobre da TV Globo após seis anos. O autor, vencedor de dois Emmys, traz nesta nova novela todas as suas vivências, referências e sua assinatura única na teledramaturgia.
A inspiração para o enredo de ‘Três Graças’ veio de uma experiência de quase 20 anos. Aguinaldo escrevia ‘Duas Caras’, exibida em 2007, quando visitou uma maternidade pública. A quantidade de adolescentes grávidas no local, sem o apoio dos pais dos bebês, o marcou. “A trama fala de três mulheres que foram mães muito cedo, aos 15 anos, não tiveram apoio dos pais das crianças, foram à luta e passaram por situações extremas. Mas levam uma vida muito parecida com a vida dos nossos espectadores. Ou seja, elas batalham, são otimistas, têm fé no futuro e se envolvem com histórias típicas de um folhetim. É uma ficção que tem o privilégio de poder se inspirar na realidade”, define o autor.
Parceiros de trabalho de Aguinaldo em outros projetos, Virgílio Silva e Zé Dassilva assinam juntos pela primeira vez a autoria de uma obra. Os autores ressaltam que a novela evidencia o abismo social que existe em nosso país, no contexto ficcional da história. “A trama mostra a diferença entre os que têm tudo e os que têm muito pouco, e a busca dessas pessoas – cada uma a seu modo – para se manterem de pé diante da vida”, define Virgílio. “Acho que temos aspectos clássicos das grandes histórias populares que o brasileiro aprendeu a amar, como mocinhas imperfeitas e vilãs que fazem o público se encantar, mesmo torcendo contra. Mas isso com um olhar de agora, conversando com o Brasil atual, através da realidade de Gerluce (Sophie Charlotte) em contraste com a ganância de Arminda (Grazi Massafera) e Ferette (Murilo Benício)”, completa Zé Dassilva.
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‘Três Graças’ apresenta uma história ambientada na maior metrópole da América Latina e propõe reflexões sobre assuntos contemporâneos, mas a proposta dos autores e do diretor artístico Luiz Henrique Rios é uma obra tragicômica, não naturalista. “Na estética e na interpretação, estamos trabalhando com um tom um pouco acima da realidade. É uma história intensa, com muita cor e vibração. Dessa forma pulsante queremos emocionar e envolver o espectador”, explica Luiz Henrique Rios.
As três Graças
De origem humilde e sobrenome Maria das Graças, Gerluce (Sophie Charlotte), a mãe, Lígia (Dira Paes), e a filha, Joélly (Alana Cabral), dividem o mesmo destino: a gravidez solo na adolescência. Mulher doce, resiliente e com grande capacidade de enfrentar adversidades, Lígia encarou de cabeça erguida os desafios de criar a filha sem o apoio de Joaquim (Marcos Palmeira), um sujeito solitário, de comportamento esquisito, que nunca quis assumir a paternidade.
Com o exemplo da mãe, Gerluce se tornou uma mulher batalhadora e determinada. Ainda muito nova, foi seduzida por Jorginho Ninja (Juliano Cazarré), antigo chefe da facção criminosa da Chacrinha – a comunidade fictícia onde vive com sua família em São Paulo. Desse relacionamento, engravidou de Joélly, que criou apenas com a ajuda de Lígia, enquanto o pai da menina segue preso há muitos anos. Agora que a filha chegou à adolescência, a maior obsessão da vida de Gerluce não poderia ser outra: impedir que sua filha acabe por repetir a sina da mãe e da avó e se torne outra mãe solo. Mas o destino não é algo que se pode controlar. A jovem Joélly, de apenas 15 anos, tem a gravidez confirmada logo no início da história.
“A gente vai trazer à tona essa tríade de mulheres de diferentes gerações que vivem um ciclo parecido. E o que será que vai interromper esse ciclo? Como é a evolução de uma mulher que se vê mãe tão jovem e depois se vê avó tão jovem? São os desdobramentos disso tudo. É um olhar para uma personagem que vai representar muito bem a mulher que alicerça uma casa, a mulher que dá chão para as outras gerações virem. E a gente sabe que, na estrutura da família brasileira, a mulher é esse alicerce”, observa Dira Paes.
O bebê de Joélly é fruto do romance com Raul (Paulo Mendes), rapaz rico que passou a frequentar a Chacrinha em busca de drogas e que acaba perseguido pelos traficantes locais em função de dívidas. Gerluce apoia a filha desde o primeiro exame, mas como nunca quis contar para ela quem é seu pai, Joélly, com sua personalidade forte, se sente no direito de não revelar à mãe que se envolveu com o filho da patroa dela, Arminda (Grazi Massafera). A jovem vai enfrentar momentos complicados sem dividir com a família. “Por ter crescido em um ambiente só de mulheres fortes, a Joélly tem uma sagacidade e uma esperteza que lhe dão uma certa independência. Acredito que, por isso, ela toma decisões sozinha e não divide suas questões. Ao mesmo tempo, é extremamente sonhadora e romântica, acredita muito no amor“, define Alana Cabral.
Enquanto Gerluce e Lígia desconhecem que Joélly vive uma situação delicada com o pai da criança,que revela não ter condições de criar um filho, Joélly encontra em Kellen (Luiza Rosa), sua melhor amiga, o apoio para lidar com a relação proibida e conturbada.
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Em meio a uma rotina exaustiva, que encara com otimismo, Gerluce faz o possível para proteger e incentivar a filha a cursar uma faculdade. E como Ligia precisou se afastar do trabalho como cuidadora de Josefa (Arlete Salles), por causa de uma doença pulmonar grave, Gerluce assumiu o posto da mãe na mansão de Arminda, filha da idosa. Lá será onde, por uma coincidência do destino, vai descobrir que sua mãe é vítima de um esquema de falsificação de remédios em que a Arminda está envolvida. “Existe uma injustiça muito grave sendo cometida contra a comunidade dela, que está recebendo remédios falsos. E o que a Gerluce vai fazer com essa informação? Ela precisa cuidar da mãe, é esteio da família naquele momento. Ao mesmo tempo, é perigoso mexer com gente tão poderosa. Existe um desafio sobre como agir e quais caminhos seguir”, analisa Sophie Charlotte.
A rotina de Gerluce no casarão da “dona cobra”
O trajeto da fictícia Chacrinha, na Zona Norte de São Paulo, para o trabalho, na Aclimação – bairro nobre da região central da cidade -, é longo. Gerluce (Sophie Charlotte) precisa pegar dois ônibus para chegar ao destino e, se atrasar cinco minutos, leva uma chamada de Arminda (Grazi Massafera). A madame, do tipo que sente o mundo girar em torno dela, acha que todos devem servi-la. Expressa desprezo por qualquer pessoa de classe social inferior e até pela família. O que faz Gerluce aguentar o temperamento de “dona cobra”, como Arminda é intitulada pelos empregados, é seu apreço por Josefa (Arlete Salles), uma senhora espirituosa, que sofre de lapsos de memória, mas tem lembranças que costumam deixar a filha em maus lençóis. Ela cuida da idosa durante o dia e é rendida por Claudia (Lorrana Moussinho) no turno da noite. Busca proteger Josefa da negligência da megera, que também não poupa o filho Raul (Paulo Mendes) de seu desprezo e humilhações. O rapaz é fruto do casamento de Arminda com Rogério, um homem que sumiu em circunstâncias misteriosas. “Arminda é uma vilã bem clássica, imoral. Ela tem um humor que não chega a ser ácido, vai mais para o macabro. A relação com a família é tóxica. Ela não admira o filho em nada, e tem conflitos com a mãe o tempo inteiro. É uma mulher sem filtro”, conta Grazi Massafera.

Na rotina dessa casa de ambiente disfuncional, Gerluce descobre que existe um quarto misterioso, que fica sempre fechado. Um dia, ela percebe que a porta do local está entreaberta, se depara com escultura As Três Graças – obra neoclássica que retrata deusas da mitologia grega – e fica fascinada com tanta beleza. Em seguida, encontra no quarto uma sacola de supermercado com maços de dinheiro, quando Arminda chega e a flagra no local, mas não consegue ter certeza do que a cuidadora realmente viu. Gerluce não tira a cena da cabeça e descobre que a obra de arte vale um milhão de dólares. A partir deste episódio, ela começa a refletir sobre a injustiça de existir tanto dinheiro nas mãos de poucos, enquanto milhares de pessoas passam necessidade a sua volta.
Ferette e seu esquema de falsificação de remédios
As sacolas de supermercado com dinheiro chegam à mansão de Arminda (Grazi Massafera) pelas mãos de seu amante Santiago Ferette (Murilo Benício), um falso benfeitor. Homem acima de qualquer suspeita, poderoso e respeitado, é referência no assistencialismo aos mais necessitados. Recebe homenagens pelo trabalho social que realiza na Fundação Ferette, da qual Rogério, o marido desaparecido da madame, era sócio. O dinheiro, que esconde dentro da escultura As Três Graças, vem de um esquema criminoso e muito lucrativo envolvendo remédios de alto custo, distribuídos gratuitamente a pessoas carentes. Quando Arminda conta a Ferette que Gerluce (Sophie Charlotte) entrou no quarto da estátua, ele se preocupa e passa perseguir a jovem. “A relação entre Ferette e Arminda existe há um tempo, e eles são parceiros de crime. Formam uma dupla muito ardilosa de vilões, carregada de segredos. Eles têm o rabo preso um com o outro justamente porque dividem esses segredos”, analisa Murilo Benício.

A fundação do vilão recebe verbas milionárias para adquirir os medicamentos e entregar gratuitamente em suas farmácias. Porém, os remédios são revendidos no mercado clandestino por um valor abaixo da tabela e com pagamento em dinheiro vivo – daí as sacolas cheias de notas que são guardadas dentro da obra de arte. Para realizar a distribuição dos medicamentos à população carente, Ferette montou uma fábrica, onde produz os placebos feitos de farinha que substituem os comprimidos de verdade. O local é comandando por Vicente (Marcello Escorel), e o criminoso conta com Macedo (Rodrigo Garcia) e Edilberto (Júlio Rocha) para sua segurança e todo o tipo de trabalho ilegal. Na fundação, os funcionários desconhecem o esquema da Casa de Farinha e acreditam que fazem parte da equipe de uma entidade respeitada. Nem Xênica (Carla Marins), que cuida de diversos assuntos, nem a chef de cozinha da instituição, Samira (Fernanda Vasconcellos), desconfiam de nada.
A esposa de Ferette, Zenilda (Andreia Horta), admira profundamente a dedicação dele ao trabalho social e se orgulha da família que construíram. O casamento de mais de 20 anos gerou dois filhos, Leonardo (Pedro Novaes) e Lorena (Alanis Guillen). Zenilda é muito dedicada ao lar, um apartamento de alto luxo próximo ao centro financeiro de São Paulo, e ao bem-estar de todos. Ela acredita no amor de Ferette, mas chega a desconfiar de que ele vive uma história paralela. Contudo, procura não pensar nisso, e jamais passa por sua cabeça que ele possa ter um caso com Arminda, sua amiga inseparável desde a juventude. “Zenilda é uma pessoa muito alegre, leve e atenta ao outro. É uma advogada que não exerceu a profissão para se dedicar integralmente à família, mas, agora, com os filhos criados, começa a desejar trabalhar. Ela não imagina como o marido é por trás da máscara, realmente não conhece essa face dele, embora deseje mais do que Ferette a oferece, porque está sempre cansado, sempre dedicado ao trabalho. Então ela vive à espera, completamente apaixonada”, revela Andréia Horta.
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Leonardo trabalha com o pai na fundação e sonha ser seu sucessor, sem desconfiar de que os medicamentos doados são falsos e que pessoas morrem por causa disso. “O Léo se relaciona bem com a família, mas, principalmente com o pai, tem muita troca, já que trabalham juntos e almeja assumir o lugar dele. Ele tem uma referência do que é certo dentro da ‘bolha’ em que vive, e isso vai gerar muitos conflitos internos diante dos acontecimentos que irão surgir“, revela Pedro Novaes.
A única pessoa na família que desconfia de Ferette é Lorena (Alanis Guillen). Acredita que o pai tem uma ambição desmedida e se incomoda com a posição de passividade que a mãe ocupa na relação. São comuns os embates entre os dois em casa. “Lorena não tem medo de ousar nem de lutar pelo que acredita. É uma ‘contracorrente’ entre os pais e o irmão. Tem muito amor e diversão entre eles, mas ela questiona algumas ideias e comportamentos, assim como a ela mesma também, já que cresceu nessa estrutura“, analisa Alanis Guillen.
Policial Paulinho Reitz: o amor surge na vida de Gerluce
Com tantos problemas e a rotina agitada, Gerluce (Sophie Charlotte) não consegue tempo para o lazer e muito menos para namorar. Até por isso sua paquera atual é o motorista de uma das linhas de ônibus que pega todos os dias. Nos trajetos longos entre a Chacrinha e o bairro da Aclimação, a cuidadora e Gilmar (Amaury Lorenzo) conversam e combinam encontros.
Bonita e atraente, Gerluce chama a atenção de Paulinho Reitz (Romulo Estrela), policial honesto e íntegro, durante uma investigação no posto de saúde onde ela leva Joélly (Alana Cabral) para fazer os exames de gravidez, em situação um tanto complicada.
Quando descobre que Gerluce trabalha na Aclimação, Paulinho dá um jeito de estar por perto. Demonstra interesse pelos problemas que ela enfrenta e diz que pode contar com ele em diversas situações. Das conversas durante as caronas para o trabalho, os dois, aos poucos, iniciam um namoro apaixonado, que entrará em crise quando ela descobrir sobre o esquema dos remédios. “O Paulinho é um cara que, de fato, vive para trabalhar, e, em determinado momento, encontra a Gerluce e se encanta de novo. Isso o faz pensar que a vida também é olhar para si e se cuidar, viver um pouco fora do trabalho. Os dois têm um senso de justiça muito grande, que vai fortalecer a conexão entre eles“, analisa Romulo Estrela.
O impacto dos remédios placebo na Chacrinha
Enquanto Santiago Ferette (Murilo Benício) e Arminda (Grazi Massafera) enriquecem a cada dia, os moradores da Chacrinha que tomam os medicamentos distribuídos pela farmácia da fundação Ferette sentem a piora em seu estado de saúde. Uma dessas pessoas é Lígia (Dira Paes), a mãe de Gerluce (Sophie Charlotte). Ela sofre de uma doença pulmonar grave e, percebendo-se mais fraca e debilitada com o passar do tempo, desconfia de que os remédios não façam efeito. Viviane (Gabriela Loran), a farmacêutica responsável pela distribuição na comunidade, passa a desconfiar dos remédios ao ouvir queixas de outros moradores. Chega a comentar suas desconfianças com o médico voluntário da comunidade, José Maria (Túlio Starling), mas ele defende a entidade, pois confia no trabalho de sua mãe, Xênica (Carla Marins), funcionária da Fundação Ferette.
A suspeita de Viviane aumenta quando Misael (Belo) entra transtornado na farmácia, contando que a esposa, Isaura, morreu, e acusando os medicamentos de não serem verdadeiros. Misael faz um escândalo na frente do prédio em que Ferette será homenageado por seu trabalho social. Na frente de vários convidados, acusa o dono da fundação de ter matado sua mulher. Depois de ser perseguido por um capanga de Ferette, ele vai se refugiar no ferro velho desativado do amigo Joaquim (Marcos Palmeira). “Misael é um homem de princípios firmes, leal aos seus afetos e extremamente dedicado às pessoas que ama. Tem um senso de justiça muito forte e não se intimida diante de desafios, mesmo que isso signifique se colocar em situações difíceis”, revela o intérprete Belo.

Percebendo que sua reputação está em perigo, Ferette tenta se livrar de Misael e proteger o sigilo do seu esquema. Ele aproxima o filho Leonardo (Pedro Novaes) de Viviane, para saber se existem as mesmas acusações de outros pacientes da Chacrinha.
Mas basta um descuido de Ferette durante uma conversa com Arminda (Grazi Massafera) para que Gerluce fique sabendo que eles distribuem remédios falsos aos pobres. Com a mãe a cada dia mais doente e a notícia de mais uma morte na comunidade, ela conta para Viviane o que ouviu e decide fazer uma denúncia na delegacia da região. A esperança por justiça dura pouco: Ferette é muito poderoso e o delegado se recusa a investigar o caso. Até onde ir e o que fazer para reparar essas maldades, passa a ser, então, o dilema que vai acompanhar a protagonista ao longo dos capítulos.
Gravações em São Paulo movimentaram diversas regiões da capital paulista
A grande São Paulo, com seus prédios imponentes e enorme diversidade populacional é onde se passa a história de ‘Três Graças’. No mês de julho, equipe e parte do elenco viajaram para a capital paulista, dando início às filmagens das primeiras cenas da obra. Os trabalhos duraram quase um mês.
Durante dias frios e ensolarados, as cenas foram rodadas, em grande parte, na Brasilândia, na região Norte da cidade, onde é retratada a comunidade fictícia da obra. Foi lá que as protagonistas Sophie Charlotte, Dira Paes e Alana Cabral se encontraram pela primeira vez no set de gravação. Também gravaram na cidade Romulo Estrela (Paulinho), Murilo Benício (Ferette), Arlete Salles (Josefa), Paulo Mendes (Raul), Xamã (Bagdá), Luiza Rosa (Kellen), Guthuierry Sotero (Júnior), Lorena (Alanis Guillen), Mell Muzzillo (Maggye), entre outros.
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Para o diretor artístico Luiz Henrique Rios, começar os trabalhos no local retratado na história é fundamental. “É muito importante para a narrativa mostrar a cidade, não só como normalmente se mostra São Paulo, com seus grandes prédios, mas o dia a dia das pessoas. Alguns personagens vivem na comunidade da ficção, que estamos ilustrando como uma parte da Brasilândia, um lugar muito diverso. Trazer essa realidade para dentro da nossa comunidade proporciona a ampliação do espaço cenográfico. Temos uma grande cidade cenográfica, mas queremos misturar com muito do que acontece na Brasilândia. Gravamos em cinco locações dentro desse grande complexo“, conta o diretor. Cerca de 100 pessoas da equipe da novela e 30 figurantes locais participaram de cenas na comunidade. Ruas, vielas e espaços urbanos da região foram usados nas sequências.
A atriz Sophie Charlotte conta como a ambientação na Brasilândia contribuiu para a composição da personagem: “Achei muito emocionante começar as gravações no local, olhando o trânsito das pessoas, todas muito carinhosas com a gente, recebendo a nossa gravação com tanta curiosidade. Observei as pessoas circulando pelas ruas, idosos, crianças jogando bola… Começar vendo a vida do lugar inspira muito. Como atriz, busco na realidade a fonte para a história fictícia que vamos contar“.
Os bairros Aclimação, Bela Vista, Pinheiros, Pirituba e Freguesia do Ó também estão entre as locações da novela. A fachada da Sala São Paulo, uma das mais modernas salas de concerto do mundo, no centro da cidade, foi cenário de uma das gravações mais complexas da viagem. No local foram realizadas as cenas em que Ferette (Murilo Benício), junto de sua família, chega para ser homenageado por seu trabalho social. É também o momento em que Misael (Belo) acusa o “benfeitor” de distribuir remédios sem efeito para a população carente. “Quando procuramos as locações, queríamos que tivesse uma personalidade, então evitamos os pontos mais comuns da cidade. A intenção era buscar uma São Paulo diferente do que já vimos retratadas em outras produções”, conta o produtor da novela Gustavo Rebelo.
O conceito visual de Três Graças: sofisticação, identidade e ousadia estética em cada detalhe
‘Três Graças’ aposta em uma estética pulsante e não-realista para contar sua história com o vigor e a intensidade típicos de uma tragicomédia. Todo o conceito visual foi desenvolvido pelo diretor artístico Luiz Henrique Rios em parceria com a diretora de arte May Martins. Juntos, com as equipes de cenografia, iluminação, produção de arte, figurino e caracterização, construíram uma proposta única que traduz a força dos personagens e dos espaços que habitam.
“Esse conceito também se reflete na forma como Luiz Henrique está gravando: ele utiliza lentes e zooms com movimentos que acompanham essa respiração e esse pulso. No fim das contas, há perigos ali, as situações são extremas”, pontua May, que também destaca a importância da permeabilidade dos espaços para reforçar o suspense da trama. “Os ambientes são muito integrados, o que contribui para a fluidez narrativa. Sempre há algo acontecendo em algum lugar”, explica.
Cenografia e produção de arte
Desde o início, a proposta foi criar uma novela que não disfarça sua ficção, mas a assume com força estética, segundo os criadores. A cenografia, nesse contexto, equilibra-se entre o real e o ficcional. “A arquitetura é concreta. Podemos exagerar nas cores e nos detalhes, mas a proporção precisa ser verdadeira”, afirma a cenógrafa Cristiane Fassini. Com referências à estética do cineasta espanhol Pedro Almodóvar, a paleta de cores torna-se essencial em cada núcleo. Além do verde, as cores primárias — vermelho, azul e amarelo — e seus subtons estão presentes não apenas nos cenários, mas também nos figurinos e objetos de cena. Nos núcleos mais abastados, como o apartamento da família de Ferette (Murilo Benício), foram utilizadas cores pigmentadas e sóbrias; já na Chacrinha, a comunidade fictícia da trama, predominam tons mais abertos. A iluminação também foi pensada para dialogar com essas paletas.
A cidade cenográfica da Chacrinha nos Estúdios Globo, no Rio de Janeiro, planejada por Cristiane, representa um recorte da periferia de São Paulo, inspirado em visitas de pesquisa e observação na capital. “Mantivemos o arruamento anterior, mas verticalizamos as construções para remeter à Brasilândia. Criamos segundos andares e dividimos casas grandes em menores, alterando cores e esquadrias para transmitir a sensação de multiplicidade”, explica. Cristiane também destaca a riqueza dos interiores construídos, como a laje de Bagdá (Xamã) – com direito a banheira de hidromassagem -, a igreja do pastor Albérico (Enrique Diaz), o posto de saúde e a farmácia da Fundação Ferette, onde Viviane (Gabriela Loran) trabalha.
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A produtora de arte Nininha Medicis reforça o compromisso com a vivacidade dos cenários. Durante as gravações em São Paulo, a equipe de produção de arte inseriu elementos nas cenas filmadas na Brasilândia. “Levamos muitos camelôs, cartazes, faixas, carrinhos de papelão — tudo para garantir vida constante”, conta. Um caminhão repleto de materiais foi enviado para compor a laje do personagem Bagdá e outros cenários, incluindo churrasqueira, narguilé, pipa e caixas de som com LEDs.
Também situada na fictícia Chacrinha, mas com interior construído em estúdio, a casa onde Gerluce (Sophie Charlotte) vive com a mãe Lígia (Dira Paes) e a filha Joélly (Alana Cabral) foi concebida para traduzir afeto e memória. Trata-se de uma construção orgânica, feita aos poucos, como nas comunidades. Cada cômodo tem estilo próprio, com pisos variados e puxadinhos. A fachada é amarela, com portas azuis. “Tem paninhos de prato com silk, quadrinhos de casca de ovo pintados na escola. É um espaço que conta a história da vida delas”, revela Nininha.
A novela também apresenta diversas cenas filmadas nas ruas de São Paulo, integradas ao cotidiano do transporte público rodoviário. Na fase inicial de externas, a produção de arte trabalhou com três ônibus, incluindo um elétrico, completamente adereçado para as cenas com o motorista Gilmar (Amaury Lorenzo). O trabalho envolveu adesivagem e criação de elementos como estação de cobrador, validador de cartão e câmeras de segurança.
Entre os cenários dos personagens mais ricos, o eclético casarão da vilã Arminda (Grazi Massafera) se destaca. Localizada no bairro da Aclimação, zona central de São Paulo, a mansão também foi reproduzida em cidade cenográfica nos Estúdios Globo. “É uma casa de poucas cores, mas muito intensas”, define May. “Ela coleciona lupas, ampulhetas, objetos acumulados. É como o castelo da bruxa”, complementa Nininha.
Um dos cenários da mansão, o quarto onde está a escultura As Três Graças, tem grande importância na trama. O cômodo, uma antiga biblioteca hoje desativada, é cercado por livros e móveis de outras gerações, com uma atmosfera de mistério que envolve a obra. A escultura, com 1,80m de altura, foi produzida em resina com pó de mármore na fábrica de cenários dos Estúdios Globo. Além das três figuras que representam deusas da mitologia grega, a peça tem uma base vazada, onde os vilões Arminda e Ferette (Murilo Benício) escondem dinheiro ilegal.
Espaços que concentram poder e riqueza, como o apartamento e a Fundação de Ferette, também receberam atenção especial. “A fundação tem um propósito aparentemente simpático, então usamos um verde solene pontuado por um laranja muito controlado”, explica May. “A casa dele tem uma alegria que vem da mulher, Zenilda (Andréia Horta), mas também carrega uma cor de esperança”, destaca. Cristiane reforça que o apartamento foi inspirado em imóveis de alto padrão dos bairros nobres de São Paulo, com arquitetura moderna e grandes paredes de vidro.
A galeria de arte administrada por Kasper (Miguel Falabella) e João Rubens (Samuel de Assis) é uma extensão da residência do casal. Na frente, há um salão de exposição com arquitetura industrial; nos fundos, a casa. Entre os dois espaços, um pátio com muitas plantas e esculturas. “O casal tem gosto refinado e lida com arte. A arquitetura é neutra, mas com móveis ousados e obras de arte, refletindo a personalidade deles”, explica Cristiane.
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Figurino e caracterização
Comandadas por Paula Carneiro no figurino e Gilvete Santos na caracterização, as equipes criativas entregam um trabalho minucioso que reflete a diversidade social, estética e cultural dos personagens criados por Aguinaldo Silva, Virgílio Silva e Zé Dassilva.
A proposta ultrapassa o naturalismo e aposta em visuais ousados, que traduzem a identidade de cada núcleo da trama. Na comunidade fictícia Chacrinha, a protagonista Gerluce, vivida por Sophie Charlotte, representa uma mulher periférica, funcional e vaidosa. “Ela usa tênis porque atravessa a cidade para trabalhar. Mas também veste blusas decotadas, jeans justos e acessórios simples. É feminina, forte e real”, diz Paula. Na caracterização, Gilvete apostou em cabelos encaracolados, lápis preto nos olhos e batom vinho, além de protetor solar com cor para manter a autenticidade. “É o que dá tempo na correria do dia a dia”, comenta.
O cantor e ator Belo, conhecido pelos cabelos loiros, escureceu as madeixas para interpretar Misael, um dos moradores da Chacrinha. Já Bagdá, interpretado por Xamã, deve chamar atenção com peças em animal print e correntes que utiliza no pescoço. Dentre os outros personagens que circulam na comunidade, Joélly (Alana Cabral), adolescente que se descobre grávida, tem figurinos inspirados na moda acessível da periferia. “A moda está nos sites e aplicativos de compras. As meninas têm acesso, gostam de pintar a unha, usar cropped, jardineiras. Fizemos pesquisa de campo na Brasilândia para entender esse universo”, revela Paula. Já os personagens Raul (Paulo Mendes), Vandílson (Vinicius Teixeira) e Alemão (Lucas Righi) exibem cabelos descoloridos, tranças e tatuagens. “Pesquisei muito nas comunidades de São Paulo. Quis trazer essa vibe real, que a gente vê nas ruas”, afirma Gilvete.
Do outro lado da cidade, o núcleo da elite paulistana revela personagens com visual sofisticado, muitas vezes, à beira do exagero, como no caso de Arminda, interpretada por Grazi Massafera, uma mulher rica e imponente. Gilvete transformou o cabelo loiro da atriz em um tom marrom acobreado. “Arminda é uma mulher paulistana rica, que vive no salão e só anda impecável. Ela dorme e acorda montada”, explica. Paula complementa com figurinos inspirados nos anos 1980: vestidos longos, salto alto, joias expressivas, tecidos esvoaçantes e ombros marcados. “Arminda é como uma escultura dentro da casa. É teatral, autêntica, dona de si”, observa a figurinista.
Zenilda, vivida por Andréia Horta, é uma mulher elegante e discreta. “É como se ela morasse em cima de um shopping e descesse para comprar nas lojas de luxo. Usa alfaiataria, tons neutros e se veste para agradar o marido”, conta Paula.
Lorena, interpretada por Alanis Guillen, se destaca pelo olhar apurado e consciente. Seu figurino é composto por peças de brechó, misturas ousadas de estampas e uso de couro ecológico, refletindo sua personalidade autêntica e seu embate com o pai conservador. “A Lorena mistura estampa, cores. E usa gravata. Diferentemente do pai, Ferette (Murilo Benício), ela tem um olhar para o planeta”, afirma Paula, que aposta no visual da personagem como tendência.
Ferrette, vivido por Murilo Benício, também passou por uma transformação marcante. Inspirado em ícones como Richard Gere e George Clooney, Gilvete criou um cabelo branco acinzentado, alinhado e mais comprido. “Em geral, o paulistano é ‘na régua’. Corte definido, barba desenhada, tudo impecável. É isso que estamos buscando levar para a tela. No caso do Murilo, foram nove horas no salão para chegar nesse tom. Fizemos mechas invertidas para dar essa mistura de acinzentado com branco”, conta. No figurino, Ferrette veste ternos de gola alta e usa óculos de lente rosa, reforçando sua sofisticação.
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‘Três Graças’ é uma novela criada e escrita por Aguinaldo Silva, Virgílio Silva e Zé Dassilva, com direção artística de Luiz Henrique Rios e produção de Gustavo Rebelo e Silvana Feu. A direção de gênero é de José Luiz Villamarim.






