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“Ter um teto é a base da dignidade de qualquer família”, diz Boulos sobre MTST ao programa “No Alvo”

Em participação nesta segunda (25), o deputado federal falou sobre sua rotina familiar, formação em psicanálise, criticou a taxação de Donald Trump sobre produtos brasileiros, comentou sua relação com Lula e criticou a atuação da direita

Redação
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Guilherme Boulos
Guilherme Boulos (Divulgação/SBT)

Uma inteligência artificial coletou, organizou e cruzou informações disponíveis publicamente na internet sobre Guilherme Boulos (PSOL-SP). Para uns, é o herói das causas populares. Para outros, um agitador profissional com discurso de vitrine. Foi o deputado federal de esquerda mais votado do país, já falou em nome de milhares que clamam por direitos sociais, mas esteve sozinho nessa última segunda-feira, 25 de agosto, sob os holofotes para responder às temidas perguntas do “No Alvo“.

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A atração registrou 2,8 pontos de média, 7,7 de share e pico de 5,4 pontos na Grande São Paulo, consolidando mais uma vez a vice-liderança,  posição que ocupa desde a estreia, em 14 de julho

Confira alguns trechos, em formato pingue-pongue, do episódio de “No Alvo” com Guilherme Boulos:

Você é um ex-aluno da USP, filho de médicos e formado em filosofia. Em que momento o menino de classe média tomou consciência social contra o sistema?

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No Brasil não é difícil tomar consciência social contra o sistema. Basta ter olhos abertos e coração. O país que é um dos maiores produtores de alimento do mundo têm gente com fome. Um país que tem 6 milhões de pessoas sem casa, também tem 5 milhões de imóveis abandonados, vazios. É só olhar a injustiça do sistema que, se a gente tiver um pouquinho de capacidade de se indignar, a gente se move contra ele.

Em 2020, você foi o fenômeno das urnas com apenas 17 segundos de TV. Agora com mandato, fundo partidário e holofote, dá saudade de ser o cara da quebrada?

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Eu continuo morando na quebrada, graças a Deus. Moro no Campo Limpo com a minha esposa, Natália, com as minhas filhas, a Sofia e a Laura. Minha esposa é nascida e criada lá, foi quem me levou ao Campo Limpo. Então, não dá pra ter saudade daquilo que a gente não deixou. Eu continuo sendo a mesma pessoa que eu sou, não estou na política para ganhar dinheiro, não estou na política por holofote, estou na política porque eu acho que é um instrumento que a gente tem pra transformar a sociedade.

Você já foi chamado de “invasor”, “radical”, “esquerdista gourmet” e até “messias do MTST”. Qual desses apelidos mais te diverte?

Essa coisa de invasão, ela, ao mesmo tempo, me diverte e me chateia. Me diverte porque ela gera um monte de piada: “o povo vai invadir”, “o Boulos chegou para invadir”, “vai invadir os corações”. Mas chateia pelo seguinte, porque ela, em geral, ela expressa uma ignorância e um preconceito. O que o Movimento Sem-Teto faz não é tomar a casa de ninguém, porque quando você fala “invasor”, parece que vai entrar alguém na tua casa. “Sai daí, eu vou botar outra pessoa, um morador de rua aí”. Não é isso. O que o Movimento Sem-Teto faz, e o que eu sempre defendi, é que imóveis que estão abandonados há muito tempo, imóveis que estão ilegais, que devem às vezes de IPTU mais que o valor do imóvel, esses prédios do centro da cidade que ficam largados, que eles sejam desapropriados e virem moradia popular. Não jogar as pessoas lá, mas reformar, isso está previsto na Constituição, está previsto no Estatuto das Cidades, chama “função social da propriedade”. Então, a luta que o movimento faz, a luta que eu faço há mais de 25 anos é para cumprir a lei, é para que esses imóveis virem casa para quem não tem, porque ter teto é a base da dignidade de qualquer família. Eu acho que quem já teve dificuldade para pagar aluguel no fim do mês, quem morou ou mora numa área de risco, num barraco de favela, sabe o que eu estou falando.

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Afinal, aqui entre nós, você ganha quase 50 mil reais de salário. Então manter o carrinho popular na garagem não beira o popularesco?

Cara, não. Primeiro assim, quase 50 mil reais? Na verdade, o salário líquido hoje de um deputado está em 29, 30 mil reais, o que é muito, muito acima da média do povo brasileiro. Mas você faz escolhas na vida com o que você quer gastar, entendeu? Eu não tenho necessidade de ter um carro de luxo. Meu carro me leva para onde eu quero. As pessoas fazem escolhas. Também não tenho problema com quem tem essa necessidade. Às vezes é o desejo do cara. Eu prefiro levar minhas filhas para comer uma coisa legal, prefiro gastar isso em outras coisas. Sobretudo para elas, do que investir num carro. Cada um faz suas escolhas com o que recebe.

No segundo turno da eleição municipal de 2024, você aceitou ser entrevistado na internet por Pablo Marçal, mesmo depois de ter sido duramente atacado por ele no primeiro turno. Sua explicação para o aceite foi, “não me movo por mágoa”. Pergunto, essa mágoa teria sido deixada de lado por você estar de olho nos milhões de votos que Pablo Marçal receberá no primeiro turno?

É lógico. É disso que se trata. Numa eleição, você precisa tentar ganhar votos. O Marçal teve um milhão e oitocentos mil votos, mesmo com todas as mentiras, o charlatanismo dele, ele teve votos. Eu estava no segundo turno, ele não foi pro segundo turno. Eu queria dialogar com as pessoas que votaram nele.  Eu acho que o Marçal é um picareta, mas eu não acho que um milhão e oitocentos mil paulistanos que foram levados a votar nele são picaretas. E eu queria dialogar com essas pessoas e a oportunidade de fazer uma live e um debate com ele, como foi feito, era uma forma de dialogar não com ele, de dialogar com as pessoas que votaram nele. Foi por isso que eu fui fazer a live.

Você prega o diálogo com todos. Quando foi a última vez que você ouviu um argumento de direita e pensou: “ah, faz sentido”?

Você dialogar com todo mundo significa ter espírito aberto, e não concordar com o seu adversário. Eu estou na Câmara dos Deputados hoje, eu ouço gente de direita todos os dias. Não há problema nenhum nisso. O problema é você abrir mão dos seus princípios. Se dentro dos seus princípios você reconhece um mérito num argumento de alguém que está do outro lado, isso é parte.

Deputado mais votado do Brasil, líder de movimento social e psicanalista. Você já tentou interpretar o inconsciente da esquerda brasileira?

Uma das coisas que as pessoas menos sabem de mim é que eu tive formação em psicanálise. Eu fiz meu mestrado em psiquiatria na USP, fiz formação em psicanálise. Isso está sendo útil pra mim de um jeito, mais até do que quando eu atendia – eu cheguei a atender –, isso está sendo útil para mim lá no Congresso Nacional. O que tem de doido lá… Meu vizinho de gabinete é o Zé Trovão. Você vê umas coisas lá que você fala: “rapaz, isso aqui não é caso de política, não. É caso de divã”. Tem uns caras lá que você fala: “meu irmão, o remédio estava estragado”. Então, a formação psicanalítica me deu maior tranquilidade. para lidar com as pessoas e também melhores condições de interpretar o inconsciente de quem é de esquerda ou de quem é de direita.

Já tivemos um presidente de direita com “aquilo roxo”. Outro que adorava citações de cunho sexual. O que você acha desse excesso de testosterona na política?

Eu acho que está sobrando testosterona na política. O Bolsonaro disse quando era presidente: “falta testosterona”. Eu não acho. Se você olhar tantas políticas mulheres, porque testosterona é um hormônio masculino, né? Tantas políticas mulheres que estão arrebentando, e não só as políticas mulheres, sabe? A mulherada está mais consciente. Agora nos Estados Unidos a gente está vendo o negócio do Trump, né? Trump fazendo uma loucura atrás da outra, querendo taxar todo mundo. Aliás, a direita fica dizendo que a esquerda quer taxar, que o Lula quer taxar. Quem está taxando é o Trump. Aqui o Lula está tirando taxa, por exemplo, quando propõe isentar imposto de renda de quem ganha até 5 mil reais e a direita tenta barrá-la no Congresso Nacional. Quem ganha até 5 mil reais é mais de 80% da população brasileira, e a proposta do Lula é que não pague mais nada de imposto. Mas eu estava falando das mulheres. Lá nos Estados Unidos, o Trump, com essas loucuras todas, perdeu entre as mulheres. Ele só virou presidente dos Estados Unidos porque ele ganhou com uma vantagem muito grande entre os homens. Aqui no Brasil, o Bolsonaro, com a gritaria dele, jacaré, perdeu bem entre as mulheres e ganhou entre os homens do Lula. O Lula ganhou a eleição dele porque a vantagem entre as mulheres foi maior. Acho que quem está dando exemplo na política é a mulherada, não o testosterona.

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Em 2024, você perdeu a eleição mesmo com o Lula no palanque. O que faltou? Mais Lula ou mais Boulos?

Faltou mais votos. Se eu conseguisse ter tido uma votação maior, eu teria ganhado a eleição. Infelizmente, não deu. De um lado, tinha uma máquina de grana do caramba desse Ricardo Nunes aí, que conseguiu ofuscar, máfia de creche, entre outras. Infelizmente, se as pessoas aceitam alguém que tem essa capivara para governar a cidade, é uma escolha das pessoas. Democracia é isso.

Numa próxima campanha vai depender menos de padrinhos e mais de performance própria?

Eu sempre dependi da minha performance própria, da minha performance e das minhas ideias, do que eu acredito. Eu, em 2020, cheguei ao segundo turno em São Paulo, num primeiro momento sem o apoio do Lula, depois o Lula me apoiou, agora a gente construiu uma aliança. Isso é normal, é você ter unidade. Quero ter o apoio do presidente Lula sempre que possível, pela liderança que ele representa, pelos valores que ele representa, por estarmos no mesmo campo político. Agora quem está na batalha tem que andar com perna própria, é o que eu faço.

Você transita entre a liderança de um movimento social de base e o ambiente formal do Congresso Nacional. Como você descreveria as diferenças de ritmo, linguagem e desafios entre esses dois mundos? Onde você se sente mais em casa?

Ah, não tem dúvida, cara. Eu me sinto mais em casa no movimento social, com as pessoas. Ali, em Brasília, eu não sei o que tem aquele Congresso, não sei se vocês já foram lá, ali não sei se tem um sapo enterrado, não sei o que acontece, aquele ambiente lá é um ambiente pesado, sabe? É uma coisa ruim. Eu volto de Brasília pesado, volto quase sem alma. Aí chego aqui em São Paulo, me encontro com os nossos, vou para as comunidades, faço o trabalho na ponta e vejo o resultado. O maior problema é esse. Às vezes você está lá em Brasília, você trabalha, trabalha, trabalha, e você não consegue ver o resultado, porque o sistema incorpora. Aqui, quando você chega e faz uma feira solidária, quando você chega e entrega a moradia, inicia uma obra de moradia, vê as pessoas entrando, entrega a chave na mão da pessoa, você vê o resultado do que você está fazendo. É gratificante, isso faz toda a diferença. Mas ali é toda uma atmosfera, é todo um sistema querendo neutralizar quem pensa diferente, quem faz diferente, quem enfrenta. O jogo lá é bruto.

Em 2018, em plena campanha presidencial, diante de um enorme público que gritava: “Bolsonaro, preste atenção, a sua casa vai virar ocupação”, e você disse: “Digo a vocês, o MTST ocupa terreno improdutivo. A casa do Bolsonaro não me parece uma coisa muito produtiva, não”. Depois, você disse que em momento algum ameaçou ou incentivou a invasão da casa do então candidato Bolsonaro. Como psicanalista que é, você não acha que, diante de uma multidão propensa a um ato, não é preciso ameaçar para que ele aconteça? Basta apenas, digamos, dar um leve incentivo?

A pergunta é a seguinte: aconteceu? Se eu tivesse estimulado, incentivado e isso tivesse entrado na cabeça das pessoas, teriam entrado lá na casa do Bolsonaro. Alguém entrou? Isso aí é conversa mole, né? O que não pode é você falar uma coisa no palanque e depois chegar aqui e falar outra. Isso eu não faço. Igual ao Bolsonaro, que no palanque falava que o Xandão [Alexandre de Moraes, ministro do STF] era covarde e canalha, sentou no banquinho do réu, encolheu e falou: “me desculpa, Xandão”. O nome disso aí é covardia. Ele estimulou a turma lá pra acampar em quartel e depois chegou no banco do réu e falou: “eles são malucos”. Se eu tivesse acampado em quartel por causa desse cara e ouvir me chamar de maluco, eu ia atrás dele com uma tábua na mão. Tenha santa paciência. Ele riu das pessoas que deram pix pra ele. Então, eu tenho minhas posições muito firmes. Aqui, No Alvo, em qualquer lugar que eu esteja ou num palanque. Não sou covarde e não mudo de opinião por conveniência.

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“No Alvo” é exibido toda segunda-feira, às 23h15 (horário de Brasília), no SBT e no +SBT.

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