
‘Wicked: Parte II’ encerra a história de Elphaba e Glinda com ambição, mas não com o mesmo impacto emocional da primeira parte. A ausência de canções tão marcantes quanto “Defying Gravity” ou “Popular” faz diferença — e não se trata apenas de comparação automática. O primeiro filme alcançou um apelo popular imediato justamente por apostar em números que já habitavam o imaginário coletivo. Aqui, a trilha segue fiel à estrutura da peça e do livro, o que é compreensível, mas acaba deixando a experiência cinematográfica menos memorável nesse aspecto.
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Esse desequilíbrio musical entre as partes gera uma sensação curiosa: embora a narrativa avance para temas mais densos, falta aquele momento capaz de mobilizar o público de forma instantânea. O filme entrega construção, contexto e profundidade, mas raramente oferece a catarse que muitos esperam de um musical de grande porte. Não compromete a obra, mas reduz seu alcance emocional.
Elenco sólido e polêmicas que roubaram parte da conversa
Se musicalmente o filme é mais contido, nas interpretações ele encontra seu maior ponto de força. Cynthia Erivo conduz Elphaba com intensidade e precisão, oferecendo camadas que enriquecem a trajetória da personagem. Ariana Grande surpreende positivamente ao explorar, com maturidade, momentos dramáticos que vão além do que muitos esperavam. Jonathan Bailey entrega um desempenho consistente, e Michelle Yeoh, embora competente, acaba discretamente apagada pelo conjunto — mais pelo desenho narrativo do que por sua atuação em si.
Curiosamente, parte da atenção ao redor do filme se deslocou para fora da tela. A ausência de Ariana Grande na première brasileira, em São Paulo, e entrevistas em que toques constantes, sussurros e uma preocupação quase coreografada de Cynthia por Ariana — e vice-versa — deixaram o público mais intrigado do que esclarecido. Foi um lembrete — um tanto cômico, diga-se de passagem — de como a divulgação de grandes produções, às vezes, vira um espetáculo à parte.
A mensagem essencial: além do bem e do mal
Apesar das oscilações, ‘Wicked: Parte II’ reafirma uma ideia central que atravessa toda a narrativa: não há lados fixos entre o bem e o mal. Há escolhas, circunstâncias e pontos de vista que se sobrepõem. Em um contexto do mundo atual, marcado por polarizações cada vez mais rígidas, essa mensagem ressoa de forma especial. O filme convida o espectador a perceber nuances e reconhecer que personagens — assim como pessoas — raramente cabem em categorias absolutas.
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Esse é, no fim das contas, o motivo pelo qual universos como o de ‘O Mágico de Oz’ permanecem relevantes. Clássicos voltam à superfície não apenas por nostalgia, mas porque carregam discursos que se renovam. ‘Wicked’, com suas virtudes e limitações, oferece justamente isso: um lembrete de que histórias antigas ainda têm o que dizer — especialmente nos tempos em que vivemos.
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