
Em sua segunda incursão no horário das seis da Globo, Alessandra Poggi reafirmou sua boa mão para folhetins de época. A autora, que já havia assinado a simpática Além da Ilusão (2022), demonstrou maturidade com Garota do Momento.
A recém-encerrada trama das seis da Globo foi um folhetim delicioso, despudorado e muito bem armado. Garota do Momento fez uso da amnésia, um clichê bastante conhecido do melodrama, para criar uma história rocambolesca, intrigante e cheia de reviravoltas.
Todo o drama envolvendo a “vida falsa” criada por Maristela (Lilia Cabral) e Juliano (Fabio Assunção) para Clarice (Carol Castro), e a busca da mocinha Beatriz (Duda Santos) para desvendar a farsa, foi um motor eficiente para manter a atenção do público. A presença de Bia (Maisa) e a disputa pelo coração de Beto (Pedro Novaes) temperaram toda a história.
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Época de ouro
Assim como fez com Além da Ilusão, Alessandra Poggi explorou muito bem todo o encantamento da época na qual se passava Garota do Momento. O desenvolvimento do mercado publicitário e da televisão nos anos 1950 foi um pano de fundo eficiente para narrar a jornada da heroína.
Beatriz chegou à cidade grande em busca da mãe e acabou se tornando a primeira garota-propaganda negra do Brasil. Por conta de seu sucesso e carisma, ascendeu na área e tornou-se estrela das telenovelas, que começavam a se destacar no país.
Neste contexto, Garota do Momento fez uma abordagem saborosa do período, tendo como cenários uma agência de publicidade, uma fábrica de sabonetes e uma emissora de televisão. Como se sabe, esse tripé serviu – e serve até hoje – como força motriz do desenvolvimento da telecomunicação.
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Erros e acertos
Além disso, Garota do Momento acertou no tom do folhetim, sobretudo na criação dos heróis e vilões. Beatriz e Beto foram mocinhos eficientes, longe de serem bobocas, e foi fácil torcer por eles. Já Clarice foi uma mocinha madura interessante, e os vilões Maristela, Juliano e Bia outros grandes acertos. Tudo funcionou direitinho.
Porém, Garota do Momento teve suas derrapadas. A trama foi um pouco mais longa do que sua história principal sustentava, o que gerou momentos questionáveis. A maior consequência disso foi o “apagamento” de Beatriz na reta final. A curva ascendente da mocinha foi interrompida e ficou de stand-by durante muito tempo, o que aborreceu. Ela demorou demais para retomar o título de “garota do momento”.
Garota do Momento também pecou por tramas paralelas pouco desenvolvidas. O trauma de Eugênia (Klara Castanho), por exemplo, foi esquecido. A história envolvendo Iolanda (Carla Cristina Cardoso), Ulisses (Ícaro Silva) e Glorinha (Mariana Sena) também não deslanchou.
Já a trama envolvendo Guto (Pedro Goifman) e sua história de amor com Vinicius (Elvis Vittorio) foi interrompida bruscamente depois que o segundo se mudou para os Estados Unidos. Com isso, o irmão de Edu (Caio Manhente) perdeu função na história.
Sobre isso, também é lamentável a saída de Érico (Silvero Pereira), um ótimo personagem cujo desfecho se deu antes do final da novela. Ele só retornou para uma pequena cena no último capítulo. Uma pena.
Folhetim
Porém, apesar dos pesares, o saldo de Garota do Momento é positivo. Duda Santos, Pedro Novaes, Maisa, Lilia Cabral, Fabio Assunção, Letícia Colin (Zélia) e Carol Castro brilharam em meio a um elenco muito coeso e competente.
A trama também provou que o público adora uma novela com cara de novela. Alessandra Poggi bebe do folhetim tradicional sem nenhum pudor, e sabe tratar de temas contemporâneos sem parecer panfletária. Com isso, construiu um novelão adorável.
**As críticas e análises aqui expostas correspondem à opinião de seus autores