Saiba mais sobre ‘Liberdade, Liberdade’, a nova trama das 23h da Globo

Globo / João Cotta

Saiba mais sobre ‘Liberdade, Liberdade‘, a nova trama das 23h da Globo.

O calor na pele é quase insuportável. O suor externa o que o corpo já não consegue aguentar. Homens e mulheres negros carregam peso, carregam pessoas, carregam suas almas vendidas aos brancos. Poeira, marcas do tempo, manchas e cicatrizes maculam tudo e todos. Os olhos acostumados ao luxo dourado da Coroa portuguesa, em Lisboa, se deparam com uma realidade há muito esquecida por ela. As lembranças dos últimos dias no Brasil, ainda criança, trazem a dura imagem do enforcamento do pai. Um sonhador, um herói. Não para os outros, mas para ela.

“Rosa”, alguém a chama. É Raposo (Dalton Vigh), o homem que a salvou do infortúnio. A volta ao Brasil, vinte anos depois, traz à tona todo o passado e o nome que carrega escondido: Joaquina (Andreia Horta). A filha de Joaquim José da Silva Xavier (Thiago Lacerda) e Antônia (Letícia Sabatella). A mulher que carrega no sangue a luta pela revolução de um país. A mulher que carrega a coragem para revolucionar a si mesma.

“Essa é a história de uma mulher que vive nesse período conturbado do país, em que o Brasil deixa de ser colônia e passa a ser a capital da Coroa portuguesa. É um período de revolução, do movimento da Inconfidência Mineira e de outros movimentos que desembocaram na Independência do Brasil”, define o autor Mario Teixeira. “O que mais me interessa em contar a história de Joaquina é a emoção que às vezes me assalta lendo o texto. É o Brasil, o amor que temos por essa terra”, pontua Vinícius Coimbra, diretor artístico da novela.

‘Liberdade, Liberdade’ é uma novela de Mario Teixeira baseada em argumento de Marcia Prates, livremente inspirada no livro ‘Joaquina, Filha do Tiradentes’, de Maria José de Queiroz. O texto tem a colaboração de Sérgio Marques e Tarcísio Lara Puiati. A direção artística é de Vinicius Coimbra. Liberdade, Liberdade’, com estreia nesta segunda-feira, dia 11, nas Américas, terça-feira, dia 12, no Japão e Austrália e, segunda-feira, dia 18, na Europa e África.

Vila Rica, capitania de Minas Gerais, Brasil, 1792

Nas veias de Joaquina (Mel Maia) corre o mesmo sangue de Tiradentes (Thiago Lacerda), o mártir da Inconfidência Mineira. Em 1792, Tiradentes é considerado um traidor da Coroa portuguesa. Como filha, Joaquina carrega o peso de ser descendente de um homem que será condenado à forca. Mas também leva consigo o olhar sonhador e a admiração pelo pai que, para ela, é um herói. A menina cresce em uma casa simples. Uma mãe amável e rígida ensina-a que a vida é difícil, os pés precisam estar no chão e as mãos na terra. Sonhar é um luxo para poucos. Antônia (Leticia Sabatella) aprende com o Alferes Tiradentes (Thiago Lacerda), pai de Joaquina, como arrancar os dentes das pessoas. Com isso, garante o sustento da pequena. Mas os olhos de Joaquina têm a profundidade de quem acredita demais, uma determinação inquietante. Algo que Antônia só viu nos olhos do homem que amava, mas com quem não pôde contar.  A filha não sabe da luta do pai com os inconfidentes. Mas ainda criança aprende com ele uma das principais lições de sua vida: todos os homens e mulheres são livres. Vez ou outra, ele aparece às escondidas e ensina para a filha um pouco de suas crenças. Ensinamentos que Joaquina jamais esquece. Como principal nome da Inconfidência, Tiradentes (Thiago Lacerda) quer livrar o Brasil dos mandos e desmandos de Portugal, custe o que custar. Os encontros dos rebeldes acontecem no cabaré de Virginia (Lilia Cabral), que também participa do movimento. Em um desses encontros, o companheiro de luta José Maria Rubião (Mateus Solano) alerta o Alferes: a Coroa portuguesa mandou acabar com a conjuração. Estão todos correndo risco de vida. O amigo sugere então que Tiradentes vá embora para o Rio de Janeiro ou para São Paulo. Mas é tarde demais… Enquanto se divertem com as belas mulheres do cabaré, o Capitão Tolentino (Ricardo Pereira) invade o local. Tiradentes e Rubião são presos. Ao ser levado para testemunho, Rubião é colocado à prova. Tolentino precisa de um nome: “Quem é o líder do movimento?”. Ele faz o necessário para arrancar do homem uma confirmação e consegue. Joaquim José da Silva Xavier, o Tiradentes, é então condenado por traição. E ficam, para todos os rebeldes, as perguntas: como os soldados da Coroa chegaram ao cabaré tão rápido? Como sabiam que os rebeldes estavam lá? A ação de Portugal teve apoio de alguém do movimento? Joaquina (Mel Maia) e Antônia (Leticia Sabatella) veem, na estrada, Tiradentes e Rubião em uma carroça, rodeados por soldados e tenentes. A menina percebe a preocupação da mãe. Mais que isso, sente na alma que o pai está em perigo. As duas seguem para a casa de Diogo Farto (Genézio de Barros) – o homem pode ajudar com algumas explicações, já que é simpatizante do movimento. A mãe de Joaquina dá a notícia de que Tiradentes foi preso e pergunta o que pode acontecer com ele. Diogo responde: “A pena por traição é a morte”. A pequena, escondida atrás da porta, escuta a afirmação e se desespera. Precisa encontrar o pai. Na manhã seguinte, foge sem ninguém ver. Esconde-se em uma carroça e segue até o Rio de Janeiro. Consegue adentrar o cárcere do pai e Tiradentes se desespera – pode até morrer, mas Joaquina é a rainha de sua vida, seu maior amor, nada pode acontecer com ela. Sem saída, ele explica que Joaquina está correndo perigo e tenta acalmá-la. Quando a convence a fugir, diz “eu te amo” e ouve o mesmo da filha. Ele olha a menina se afastar. Espremida entre a multidão que aguarda o enforcamento do traidor, Joaquina vê o pai. São tantas pessoas que quase a derrubam. Sente os pés saírem do chão ao ser carregada por um gigante. O homem que tenta protegê-la se chama Raposo (Dalton Vigh), um minerador simpatizante da causa dos inconfidentes. Mas nem ele, nem ninguém pode evitar o inevitável: Joaquina testemunha a morte do próprio pai. Rubião (Mateus Solano) acredita ter feito o correto. Apesar de saber que Tiradentes acabou morto por sua confissão, fez o necessário para salvar a própria vida. As torturas foram muitas, ninguém suportaria aquilo sem ceder. Será mesmo? Mas agora ele precisa encontrar um caminho para sobreviver e decide trocar de lado. Entrega-se aos mandos e desmandos de Portugal e promete fidelidade à Coroa. O capitão Tolentino (Ricardo Pereira) só observa, do alto de seu poder. Sem perder tempo, Rubião segue para a casa de Antônia (Leticia Sabatella). Há algum tempo, deixou lá um saco de moedas de ouro para ser entregue a Tiradentes. Se o homem está morto, não precisa mais das moedas. Mas ao chegar lá e cobrar a quantia, descobre que o valor sumiu. Sem acreditar em Antônia, insiste na cobrança até que, em meio à discussão, acaba assassinando a mulher. Raposo (Dalton Vigh) entra sozinho na pequena casa e vê Antônia agonizando. Em seus últimos suspiros, ela pede que o homem cuide de Joaquina (Mel Maia). Mas a verdade é que Raposo foi lá à procura de Joaquina. Assim que Tiradentes foi enforcado, a confusão aumentou e o bando de salteadores, liderado por Mão de Luva (Marco Ricca), golpeou o minerador e sequestrou a menina. Afinal, o peso em ouro da filha de Tiradentes valia muitas e muitas moedas. Ao sair da casa de Antônia, Raposo consegue resgatar Joaquina do poder do bando de Mão de Luva. Com a ajuda de Virgínia (Lilia Cabral), organizam um plano para que ele e Joaquina sigam para Portugal. A estratégia é realizada com sucesso. Já no barco a caminho das terras portuguesas, Raposo tem que responder à dolorosa pergunta de Joaquina: “Onde está minha mãe?”. Sem saída, diz a verdade e embala aquela corajosa menina nos braços, sabendo que agora ela é sua filha.

Lisboa, Portugal, 1807

“En garde!”, diz Rosa (Andreia Horta) para Raposo (Dalton Vigh). “Você luta como uma menina”, grita ela para o pai. Rosa o provoca o tempo todo durante o treino de esgrima, para alegria de Raposo. O homem morre de orgulho. Criou aquela corajosa criança, agora uma impetuosa mulher. Raposo abandonou as lutas do movimento inconfidente após muitas tragédias. Sua prioridade é ter a filha a salvo. Para despistar qualquer suspeita, criou Joaquina sob o nome de Rosa. Hoje, deve tudo o que tem à Coroa portuguesa. Tornou-se um importante fidalgo pelas riquezas que adquiriu ao longo dos anos. O treino é interrompido quando André (Caio Blat), filho de Raposo, entra no salão e anuncia: a corte está fugindo das investidas de Napoleão e embarcando para o Rio de Janeiro. Raposo sabe que precisa acompanhá-los. É hora de voltar ao Brasil! Eles correm para separar os documentos e os bens mais importantes. O resto é deixado para trás. Raposo garante a Rosa que ela não deve temer o retorno ao Brasil. Mas, na verdade, preocupa-se com o fato da jovem não temer nada. Mesmo depois de tantos anos, Rosa/Joaquina (Andreia Horta) guarda a mesma bravura e o olhar destemido que já tinha na infância. Antes de embarcar em uma viagem por mais de dois meses até a Colônia, Raposo reúne Rosa, André e Bertoleza (Sheron Menezes), negra alforriada criada por Raposo como filha, para explicar como devem ser os passos da família a partir de agora. Enfrentarão dificuldades no alto-mar, faltará conforto, às vezes até comida. Porém, eles têm o mais importante: estão juntos. A família parte, então, em direção ao Brasil.

Rio de Janeiro, Brasil, 1808

O choque ao chegar ao cais do porto é imediato. A decadência do local salta aos olhos. O suor dos homens e mulheres brancas com as vestes que imitam os europeus, apesar do calor escaldante; as marcas na pele dos escravos que circulam de um lado para o outro; o cheiro de esgoto a céu aberto; o trabalho dos comerciantes que descarregam mercadorias… Rosa percebe os olhares para Bertoleza (Sheron Menezes), alguns até a confundem com uma escrava, e Rosa a protege. Rosa (Andreia Horta) está de volta ao seu país, de volta à terra onde seu pai foi morto. Faz tanto tempo que saiu dali… Tantos anos se passaram. Conheceu uma realidade diferente, viveu em meio ao luxo, à nobreza. Agora volta à triste realidade da Colônia. Mesmo cansados e abatidos da viagem, começam o caminho para Vila Rica. Na estrada, Rosa e Raposo reencontram velhos conhecidos: Mão de Luva (Marco Ricca) e o bando de salteadores. Caju (Gabriel Palhares), o mais jovem integrante do bando, é ágil e esperto. Ele se esconde nas árvores, ao longo da estrada, entre os galhos, para ver a movimentação e alertar o líder. Mão de Luva aborda o grupo e Raposo confronta o bandido, enquanto os filhos estão acuados na carruagem. Simão (Nikolas Antunes), braço-direito de Mão de Luva, reconhece o homem que há muitos anos passava por aquela estrada com a filha de Tiradentes. Sabendo do que Raposo é capaz, os homens o cercam. Ao ver que o pai está sem saída, Rosa desce da carruagem e entra na discussão. Os homens não conseguem tirar os olhos dela, se encantam pela beleza e atitude da fidalga. Mão de Luva a reconhece. Apesar de negarem a identidade real de Rosa, ele sabe que ela é Joaquina, a filha de Tiradentes. A família consegue escapar, mas teme pelos próximos dias e pelo que o bando e seu líder são capazes de fazer com a filha do traidor da Coroa.

Vila Rica, Capitania de Minas Gerais,1808

Raposo (Dalton Vigh), Bertoleza (Sheron Menezes), André (Caio Blat) e Rosa (Andreia Horta) finalmente chegam à segunda maior cidade do Brasil, Vila Rica. Mas se a viagem foi confusa e cansativa, a situação deles na chegada não melhora. A carruagem onde se encontram quebra ao tentar desviar de uma liteira. Como ainda faltam alguns quilômetros até a chácara de Raposo, precisam consertar o veículo. Mesmo morando em Portugal, o minerador manteve a chácara e a irmã Dionísia (Maitê Proença) cuidando da casa e das terras com rigidez. Xavier (Bruno Ferrari) vê o acidente e corre para ajudar. O jovem consegue retirar Bertoleza, André e Rosa de dentro da carruagem e checa se alguém está machucado. Porém o que realmente chama sua atenção é a beleza de Rosa. Talvez nunca tenha visto uma mulher com aparência tão feminina e tão forte. É imediatamente atraído por ela. Xavier acabara de chegar a Vila Rica, após passar seis anos estudando medicina em Portugal. Mal teve tempo de rever os pais e de reencontrar a noiva Branca (Nathalia Dill), que o espera há tantos anos. A liteira causadora do acidente carrega Branca. Mesmo em meio à discussão com Raposo, ela esquece todo o ocorrido quando seus olhos encontram os de Xavier, o homem a quem foi prometida em casamento há seis anos. Agora, ele está de volta. Mas Branca percebe que Xavier mantém seu olhar dividido entre ela e Rosa. Impossibilitados de chegarem até a chácara por conta do acidente, Raposo, André, Bertoleza e Rosa são recepcionados na casa do Intendente Rubião (Mateus Solano). Rubião não consegue esconder os olhares furtivos para Joaquina, sem reconhecer a filha de Tiradentes naquela linda mulher. Na mesa de jantar, as impressões de Rosa sobre o Brasil tiram Raposo do sério. Se ela quer alarmar o Intendente, está no caminho certo! A moça fala dos maus tratos sofridos pela população, dos abusos da corte e aposta que um dia o povo se rebelará. Rubião os alerta: o último movimento que falou sobre revolução teve seu principal conspirador enforcado. Joaquina paralisa, engole seco e finalmente se cala. Depois, tem que ouvir os gritos de Raposo, exasperado, sobre os riscos que ela corre. Ele teme pela vida da menina que aprendeu a amar. Rubião (Mateus Solano) percebe que ela tem opiniões fortes, poderia até ser uma revolucionária… Mas é muito cedo para julgar. De qualquer forma, está definitivamente impressionado com aquela que acredita ser filha de Raposo. Abalada pela discussão, Rosa foge pelas ruas de Vila Rica, consciente do perigo do lugar. Precisa respirar. Em sua caminhada, depara-se com um homem que apanha de outros três. Sem pensar duas vezes, saca uma arma e aponta para a cabeça do principal agressor. Consegue afastar os arruaceiros e ajudar… Xavier. Saindo da Taverna, depois de alguns vinhos a mais, o médico entrou em uma briga. Xavier é conhecido na cidade por sua fama de beberrão e farrista, mas é um homem justo, que luta pela liberdade e igualdade entre os homens. É um rebelde, um dos importantes membros da causa, com ideais inspirados no movimento dos Inconfidentes. Xavier se esforça para ver quem o salvou, mas Rosa se esconde sob sua capa. No caminho de volta para a casa de Rubião, Rosa encontra alguns Dragões de Minas, militares que trabalham para garantir os interesses e valores da Coroa portuguesa. Foram enviados por Rubião a pedido de Raposo, que desesperado procura a filha. Rosa mal chega ao Brasil e já se envolve em diversas situações de risco, o que preocupa Raposo. Já em casa, segura, ela tem dificuldade para dormir. Os pesadelos de tudo que viveu no Brasil quando criança ainda a perseguem. Na varanda, Rubião pede que ela tome cuidado. Agora que a encontrou, não quer perdê-la. Ela sorri com o galanteio. A moça também se encanta com o Intendente. Começa ali um sentimento improvável entre o traidor de Tiradentes e a filha do Alferes. No dia seguinte, a família finalmente chega à chácara e reencontra Dionísia (Maitê Proença). Ela exala felicidade ao rever os sobrinhos e o irmão, apesar de Raposo não corresponder com palavras de afeto – Dionísia conhece o jeitão seco do irmão e não se abala. O clima de boa convivência logo acaba quando Rosa vê os escravos sendo castigados por Malveiro (Bruce Gomlevsky) a mando de Dionísia. Rosa nunca imaginou que fosse testemunhar a maior das selvagerias – e na propriedade da família. Ela discute com a tia e pede que liberte os escravos do castigo. Para todos, Dionísia é uma mulher elegante e de bons valores, precisa manter a imagem – e isso inclui o respeito dos negros que possui. Ter a sobrinha dando ordens contrárias às dela não é bom. Raposo (Dalton Vigh) defende a irmã e ordena que Rosa (Andreia Horta) se desculpe, para surpresa da filha, que se decepciona com a atitude do pai. Sabe que ele se aliou à Coroa e se tornou um monarquista para protegê-la, mas não imagina que ele apoie atitudes como aquela, encarando seres humanos como objetos, propriedades, e não almas individuais, com sonhos, desejos e sangue correndo nas veias. Rosa não tem opção, precisa respeitar a tia, o pai, os costumes da terra. Certo dia, caminhando por Vila Rica, Rosa esbarra em Virginia (Lilia Cabral), que percebe no olhar daquela imponente mulher o mesmo olhar da corajosa menina Joaquina. A dona do cabaré da cidade entretém os homens com suas jovens – dentre elas Mimi (Yanna Lavigne), Vidinha (Yasmin Gomlevsky) e Gironda (Hanna Romanazzi) – e esconde ali um ponto de encontro dos rebeldes. Com a morte de Tiradentes, Virginia torna-se um dos principais nomes da causa. Ao reencontrar Joaquina, ela retoma a esperança da luta. Sabe que naquela mulher corre o mesmo sangue do homem que sonhava com a liberdade do Brasil e com a igualdade do povo. Virginia precisa trazer Joaquina para o movimento. Precisa contar com a força daquela mulher para a revolução. Virginia está certa. Joaquina vai revolucionar o Brasil. Mas não só isso. Joaquina fará uma revolução em si mesma.

O início de ‘Liberdade, Liberdade’ – reconstruindo o Brasil de 1792 e 1808

No início de janeiro, a equipe de ‘Liberdade, Liberdade’ começou os encontros e preparações para recriar o Brasil colônia. Além de consultar livros, filmes e obras de arte sobre o período, a equipe participou de palestras, leituras de capítulos em grupo e diversas aulas. Luta, esgrima, equitação, condução de charrete e etiqueta foram algumas das atividades experimentadas pelo elenco. Depois desse momento inicial, cerca de 90 pessoas viajaram para Diamantina, Minas Gerais, onde deram início às gravações da novela. Durante cerca de duas semanas, os primeiros registros aconteceram em meio às belezas naturais nos entornos da cidade, como a Gruta do Salitre, a Estrada Real e o Cânion do Funil, pontos turísticos da região. Thiago Lacerda, Dalton Vigh, Mel Maia, Zezé Polessa, Marco Ricca e Nikolas Antunes gravaram cenas dos primeiros capítulos da trama, sob o comando do diretor artístico Vinicius Coimbra e dos diretores André Câmara e Pedro Brenelli. “A região de Diamantina já é minha antiga conhecida, pois filmei ‘A Hora e a Vez de Augusto Matraga’ lá. É uma região de relevo e paisagens muito particulares e belas, com uma linha de horizonte mais ampla, normalmente maior do que no restante de Minas. Como diria Guimarães Rosa, é uma região de ‘poeira e estrelas’”, revela Vinicius Coimbra. Para a viagem, três caminhões e quatro vans saíram do Rio de Janeiro carregadas com equipamentos técnicos e materiais de cenografia e produção de arte. A equipe de figurino levou oito araras e quatro caixas grandes com roupas e acessórios como luvas, chapéus e botas. Já a equipe de caracterização transportou cinco cases repletos de itens para ajudar a “conduzir” o elenco e a figuração para 1792 e 1808. Tudo para levar o público ao Brasil Colônia.

O Forte de São João

As gravações de ‘Liberdade, Liberdade’ no Rio de Janeiro começaram na primeira semana de fevereiro. O Forte de São João, na Urca, foi transformado no cais do porto do Brasil colônia. O cenário marca o primeiro capítulo da trama, onde Tiradentes (Thiago Lacerda) recebe o livro da independência norte-americana e de onde Raposo (Dalton Vigh) parte para Portugal levando Joaquina (Mel Maia). É lá também onde acontece a chegada de Raposo, Joaquina (Andreia Horta), André (Caio Blat) e Bertoleza (Sheron Menezes) quando retornam ao Brasil, no segundo capítulo. Para transformar o local, a equipe de cenografia precisou de três dias. Foram quatro caminhões – um deles veio diretamente de Minas Gerais, com peças produzidas na região. Inspirada em gravuras da época, a equipe criou elementos para compor o espaço: pequenos carrinhos de madeira chamados ‘piolho’ – usados por escravos para transportar materiais –, fardos de tecidos amarrados com corda, reproduções de cordas de navio, velas de barco, tendas de pau do mato e folha de bananeira. Para esconder resquícios contemporâneos, a entrada do local foi coberta com areia. Tudo para reproduzir o cais do porto de 1808. Já nas cenas da taberna, também gravadas no Forte, três balcões compuseram o ambiente, além de dez mesas grandes rústicas de madeira. A movimentação do lugar ficou por conta dos 200 figurantes que participaram dos dois dias de gravação e dos atores Thiago Lacerda, Andreia Horta, Lilia Cabral, Dalton Vigh, Caio Blat e Sheron Menezes, todos comandados pelo diretor artístico Vinicius Coimbra. A equipe de figurino levou 350 peças para o set, para compor escravos e fidalgos. O time de caracterização precisou de três cases e duas malas grandes para carregar próteses de cicatrizes e machucados, e material que reproduz suor. Foram usadas cerca de dez latas de shampoo a seco para dar o aspecto aos cabelos da época – as pessoas usavam talco para tirar a oleosidade dos fios – e dez bastões corretivos que não disfarçaram nada, pelo contrário: foram usados para “sujar” os figurantes e atores.

O Paço Imperial

Para finalizar a primeira fase da trama, a equipe da novela se reuniu no Paço Imperial, localizado no Centro do Rio de Janeiro. Lá gravaram as cenas do julgamento e enforcamento de Tiradentes, interpretado por Thiago Lacerda. Durante dois dias, cerca de 700 pessoas participaram das cenas, que levaram todos em uma viagem até o Brasil de 1792. A equipe de cenografia, durante uma semana, transformou o local, escondendo os elementos contemporâneos e incluindo peças que remetessem ao século XVIII. Primeiro, montaram um espaço de julgamento, onde Tiradentes recebe sua sentença até o enforcamento. Caminhões transportaram mesas, cadeiras, portas, cortinas e um dos principais itens da gravação: a forca. A forca foi pré-montada duas semanas antes da gravação. Feita de madeira de demolição, ela possui seis metros de altura até o topo. Para a produção de arte, um dos objetos mais importantes foi o livro de sentenças que fica na mesa do julgamento. O livro é uma reprodução inspirada em pinturas do período. Um calígrafo reescreveu a sentença real de Tiradentes, que está nos registros da Inconfidência Mineira. Cerca de duas mil peças de roupa foram levadas para o local, para figuração e elenco. Para a caracterização, dois quilos de “sujeira” e dois litros de lama cenográfica foram usados na pele e no cabelo de todos. E ainda 50 próteses de cicatrizes, queimaduras e dentárias, perucas e bastões de corretivo para sujar corpo e unhas.

Trazendo Vila Rica para os Estúdios Globo

Para reconstruir o Brasil de 1792 e 1808, anos em que se desenrola a trama de ‘Liberdade, Liberdade’, as equipes de cenografia, produção de arte, caracterização e figurino tiveram de embarcar em uma viagem rumo aos tempos da colônia através de livros, pinturas e filmes. Uma época na qual toda a sociedade vivia sem saneamento básico, com esgoto a céu aberto, hábitos higiênicos precários, pouco acesso às riquezas naturais da terra… Um período em que os negros eram tratados como propriedade e os brancos buscavam statustentando se igualar aos europeus, adotando seus valores e hábitos. “Ninguém sabe exatamente como era a vida privada no século XVIII no Brasil. Existem textos, algumas ilustrações, mas a história é contada por pessoas que podem editá-la ou estilizá-la. Portanto, nos baseamos na história, mas também demos a nossa contribuição”, explica Vinícius Coimbra. A partir dessa pesquisa sobre o universo do Brasil Colônia, as equipes se reuniram para costurar os elementos que, juntos, dão cor e forma à novela em um trabalho minucioso e detalhado. Para reconstruir Vila Rica – onde se passam os principais acontecimentos da obra – nos Estúdios Globo, a equipe de cenografia, comandada pelo diretor de arte Mário Monteiro e pelos cenógrafos Paulo Renato, Márcia Inoue e Kaka Monteiro, e a de produção de arte, a cargo de Marco Cortez, precisaram resgatar a arquitetura mineira da época em cerca de 30 prédios que compõem um espaço de quatro mil metros quadrados. Paredes com acabamento primário, tons terrosos em todas as suas variações, madeira de demolição, telhas de cerâmica, esteiras de forração de teto feitas de palha de taquara e reproduções de pedra pé de moleque são algumas das características que remetem àquele tempo. Tudo para dar mais veracidade ao local e ao período: um Brasil sem indústrias, com pouco investimento de Portugal e depredado em seus recursos naturais mais valiosos. O mesmo cuidado foi aplicado na chácara de Raposo, personagem vivido por Dalton Vigh, construída em um espaço de 600 metros quadrados, já que o personagem, um nobre minerador, é um dos mais ricos da cidade. A casa principal segue a estrutura tradicional da região, com cores brancas e detalhes em palha e cerâmica, e a senzala é feita de pau a pique e madeira de demolição. Para os móveis e peças do cenário, a busca em antiquários mineiros e o contato com colecionadores de antiguidades foram essenciais. Com isso, a equipe de produção conseguiu garimpar artefatos como cadeiras, camas, carruagens, liteiras, entre outros, para compor o espaço. Como as peças deste período são raras, nem todos os móveis foram encontrados, e os profissionais tiveram de reproduzir grandes peças como armários e mesas de acordo com a marcenaria da época. Até os colchões foram desenvolvidos, pois o tamanho e o material das camas eram particulares e bem diferentes dos usados atualmente. Papéis de parede, tecidos, maçanetas e peças aproveitadas do acervo da cenografia passaram por um processo de envelhecimento para reproduzir com mais fidelidade o período histórico.

Fidalgos e escravos

As equipes de figurino, liderada por Paula Carneiro, e caracterização, assinada por Lucila Robirosa, criaram as suas interpretações para as vestimentas e o visual dos fidalgos e escravos em todas as suas diferenças. O ambiente inóspito e as condições precárias – mesmo dos mais ricos – faziam com que as roupas e acessórios fossem desgastados e, as mesmas peças, repetidas muitas vezes. Para dar esse aspecto gasto, tecidos foram comprados, lavados, modelados, depois envelhecidos e sujados com uma mistura especial desenvolvida pela equipe. Se os nobres usavam cerca de seis a oito peças no dia a dia – entre chapéus, casacos, coletes, corpetes, camisas, luvas, rendas, calças, saias longas, anáguas e botas –, os negros usavam duas ou três peças, como vestidos, saias, blusas e turbantes – ou seja, o básico necessário para se cobrirem. No calor do Brasil, sem os recursos que existem hoje, a pele das pessoas revelava as marcas da jornada de cada um. Para reproduzir essas marcas, uma parceria com a equipe de efeitos especiais usou técnicas para “manchar” e “sujar” a pele dos personagens e figurantes. Em vez de maquiagem, a busca é por naturalizar e unificar: sujeira nos dentes e próteses, glicerina para o suor, base solúvel em álcool para criar manchas e tirar a uniformidade da pele, cicatrizes aplicadas em um sistema de carimbo, entre outros recursos. As cicatrizes não são só para os escravos. A personagem de Maitê Proença, Dionísia, sofria abusos do marido e terá diversas marcas que mostram essa história. Na busca por um visual natural do período, elenco e figuração precisaram remover química e tintura dos cabelos, que, em sua maioria, ganharam apliques para parecerem mais longos. Ainda foi preciso evitar unhas feitas e depilação. O realismo ganha liberdade de criação com as mulheres mais nobres e as que vivem no cabaré de Virgínia, personagem vivida por Lilia Cabral. Joaquina, interpretada por Andreia Horta, traz uma mistura de referências contemporâneas: bordados atuais, tipos de manga e tecidos, todos confeccionados com a modelagem da época. Como Joaquina foi criada em Portugal, ela traz para o Brasil trajes que até então as mulheres não conheciam, como os cortes com cintura alta. Ela terá uma leveza na maquiagem, que reforçará a imagem dessa mulher que impressiona todos à sua volta, e penteados mais “modernos” para o momento histórico. Joaquina, inclusive, luta esgrima, como poucas mulheres faziam, e usa calças durante os treinos que acontecem em casa, com o pai de criação, Raposo (Dalton Vigh). Já Virgínia (Lilia Cabral) faz uso de corseletes, anáguas, vestidos e robes longos para exaltar sua beleza. Uma mistura de cortes da época, com tecidos mais fluidos e bem cortados, dá o tom das meninas que trabalham no cabaré. Penteados simples, como tranças e rabos de cavalo, conferem uma sensualidade natural às mulheres. Na personagem de Nathalia Dill, Branca, tudo está combinando: formatos de vestidos bem brasileiros, com a cintura baixa da época, peças todas da mesma cor, bordados ton sur ton em cores diferenciadas como berinjela e azul petróleo. Ascenção, vivida por Zezé Polessa, mulher que vive pelas florestas e tem uma cicatriz misteriosa no rosto, tem um figurino medieval. Maitê Proença, a Dionísia, mostra que é uma mulher forte e elegante, usando cortes bem tradicionais e tons de preto, cinza e carbono. Já as escravas Blandina (Mariana Nunes) e Luanda (Heloísa Jorge) estão sempre com turbantes e roupas leves em cores mais claras, já que não tinham dinheiro para tingimentos e tecidos nobres.

Wandreza Fernandes: Editora chefe do Portal Área VIP e redatora há mais de 20 anos. Especialista em Famosos, TV, Reality shows e fã de Novelas.

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