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Análise: Globo, Record e SBT alteram estratégia de dramaturgia ao apostar em histórias curtas

Emissoras planejam cada vez mais fugir do formato tradicional de telenovela

André Santana
André Santana
Jornalista, escritor e produtor cultural, André Santana escreve sobre televisão desde 2005 e já passou por várias publicações especializadas, assinando críticas, análises e informações sobre TV e novelas.
Walcyr Carrasco
Walcyr Carrasco (Globo/ Daniela Toviansky)

Nos últimos meses, começou a circular a informação de que a Globo está apostando em um novo formato de dramaturgia: novelas mais curtas, que já ganharam até o apelido de “doramas brasileiros”. A proposta é criar histórias com cerca de 60 capítulos, exibidas em um novo horário, antes da tradicional novela das seis, por volta das 17h30. A primeira produção desse modelo, criada por Walcyr Carrasco, leva o título provisório de Vidas Paralelas, cujo episódio piloto já foi gravado.

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Enquanto isso, o SBT também parece reavaliar seus rumos no setor de novelas. Após o fraco desempenho de suas últimas produções infantis, a emissora fundada por Silvio Santos decidiu redirecionar seus esforços para séries curtas, que deverão ocupar espaços no horário nobre no momento em que a programação permitir. A primeira dessas apostas será Quem Vai Ficar com Mamãe?, que traz no elenco nomes conhecidos como Lidi Lisboa e Joaquim Lopes.

A Record, por sua vez, já está um passo à frente nesse movimento. A emissora lançou nesta semana a produção bíblica Paulo, o Apóstolo, com 50 capítulos. Além dela, outros projetos semelhantes estão engatilhados e devem chegar em breve à grade, como A História de Jó e O Senhor e a Serva, reforçando a estratégia de narrativas mais compactas.

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Tramas mais curtas em alta

O curioso é que esse interesse das três principais emissoras brasileiras por narrativas de “tiro curto” surge num momento em que, paradoxalmente, as novelas convencionais da Globo têm se estendido cada vez mais. A líder de audiência tem apostado em folhetins que frequentemente ultrapassam a marca de 200 capítulos.

Um exemplo recente é Garota do Momento, que alcançou 202 episódios. Outras produções, como Dona de Mim e Êta Mundo Melhor!, também foram planejadas para superar essa barreira, sinalizando uma mudança de estratégia em relação ao período anterior, quando as novelas tendiam a ser mais concisas.

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Durante a gestão de Silvio de Abreu à frente da teledramaturgia da Globo, as obras ficavam no ar, em média, de cinco a seis meses, com cerca de 150 a 170 capítulos. Essa fase, no entanto, parece ter ficado para trás. Hoje, a emissora prefere histórias mais longas, uma decisão motivada também por questões econômicas. Ao prolongar a duração das novelas, a empresa consegue diluir os custos de produção ao longo de mais capítulos, tornando o investimento inicial mais vantajoso.

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Novos formatos e o mercado internacional

Paulo, O Apóstolo
Paulo, O Apóstolo (Seriella Productions)

A aposta em novelas ou séries mais curtas, por outro lado, tem uma justificativa que vai além do público interno. No mercado audiovisual global, há uma clara tendência de valorização de séries compactas, com temporadas de, no máximo, 10 episódios, o que facilita sua venda para plataformas de streaming e emissoras estrangeiras.

As emissoras brasileiras, atentas a essa demanda internacional, começaram a planejar seus novos projetos com um olho no mercado externo. Narrativas mais ágeis e com menos capítulos são mais atrativas para canais e serviços de streaming fora do Brasil, além de se encaixarem melhor no consumo sob demanda.

Esse movimento mostra uma tentativa de conciliar o tradicional formato da telenovela brasileira com os novos hábitos de consumo de conteúdo, cada vez mais orientados para maratonas rápidas e histórias fechadas em poucos episódios. Assim, enquanto as novelas longas continuam como carro-chefe da programação nacional, os formatos compactos surgem como uma alternativa estratégica e comercial.

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Do “folhetim eterno” ao “episódio relâmpago”

Essa convivência de modelos tão distintos evidencia a versatilidade da teledramaturgia brasileira. De um lado, as produções mais extensas mantêm o público fiel ao hábito diário; de outro, as séries e novelas curtas atendem a uma nova geração de espectadores, acostumados ao dinamismo das plataformas digitais.

A mudança também representa uma oportunidade para roteiristas, diretores e atores explorarem narrativas mais experimentais, sem o compromisso de sustentar tramas complexas por muitos meses no ar. Com menos capítulos, há espaço para histórias mais densas e arcos dramáticos mais intensos, o que pode enriquecer a produção nacional e abrir novas possibilidades criativas.

Em meio a essas transformações, o público terá a oportunidade de acompanhar o impacto desses novos formatos na televisão aberta. Resta saber se as novelas curtas terão força suficiente para se consolidar como um novo pilar da teledramaturgia brasileira ou se permanecerão como uma aposta paralela aos tradicionais folhetins de longa duração.

**As críticas e análises aqui expostas correspondem à opinião de seus autores

André Santana
André Santana
Jornalista, escritor e produtor cultural, André Santana escreve sobre televisão desde 2005 e já passou por várias publicações especializadas, assinando críticas, análises e informações sobre TV e novelas.
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