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Após ser demitido, ex-repórter do Grupo Globo alega questão racial

Em um longo desabafo Adalberto Neto falou sobre a demissão após um jogo de futebol.

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Daniela Santos
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Adalberto neto / Instagram

Nesta última quarta-feira (4) o repórter Adalberto Neto foi demitido do Grupo Globo após um vídeo filmado por ele acabar viralizando na web. Nas imagens feita pelo repórter do caderno de bairros do jornal ‘O Globo’, é possível ver um grupo de pessoas, que estavam de plantão, comemorando a vitória do Flamengo, na Libertadores, inclusive, o editor de esportes do jornal Márvio dos Anjos.

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No vídeo, o editor aparece tirando a camisa, correndo e gritando, celebrando a vitória do time rubro-negro, que venceu de virada o River Plate, no dia 23 de novembro. O repórter, que fez as imagens, chega a comentar no fundo: “Gente, o que é isso? Isso é uma redação de um jornal sério”, disse.

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Após muitas pessoas criticarem a postura do editor chefe, ainda mais por ser da área de esportes, e após a repercussão, Adalberto acabou sendo demitido. Ele não sabe se sua saída tem algo a ver com os vídeos compartilhados nas redes sociais, mas muitos colegas garantiram que sim.

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Através de uma carta enviada ao colunista Leo Dias, do portal UOL, o jornalista falou sobre a sua demissão, e se mostrou surpreso com o ocorrido, além disso, ele alega que o seu desligamento aconteceu pelo fato dele ser negro, já que se a causa foi só os vídeos, ele poderia apenas ter sido advertido.

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Confira a carta na integra:

“Já que o assunto está tomando uma dimensão assustadora, decidi me pronunciar. A mim, realmente, não foi informado o motivo da minha demissão. Meu editor apenas disse que foi um pedido da direção pelo “conjunto da obra”. Cheguei a perguntar de que “obra” se referia, mas ele não soube responder (ou não podia). Enfim, durante os abraços de despedida nos colegas, quase todos me afirmavam que a “obra” consistia em alguns Stories durante a vitória do Flamengo sobre o River Plate por 2 a 1 na final da Libertadores.

Só para contextualizar, já que vi em alguns perfis uma galera me chamando de X9, desde a hora que eu saí de casa para trabalhar, eu comecei a gravar, dizendo que, apesar de ser Vasco, naquele dia eu era Flamengo, porque o time representava o Brasil no campeonato internacional. Sei que pode parecer estranho, vindo de um vascaíno, mas eu sinceramente encarei aquilo como uma final de Copa do Mundo e mostrei, em inúmeros momentos do meu dia a expectativa pelo jogo.

Aqui, no Brasil, se pararmos para pensar, não temos muitos motivos para comemorações. Alta do dólar, da carne, do gás, do tempo de trabalho… Deixa eu celebrar o Flamengo e idolatrar o Gabigol também, pô!. Na redação, durante a partida, não foi diferente. Aliás, como lá era o lugar em que passava a maior parte do meu dia, sempre foi cenário dos meus vídeos diários. Eram muitos. E nunca reclamaram comigo. Pelo contrário, um monte de gente de lá me segue e me acompanha frequentemente. Mostrei nos meus Stories meu otimismo, pessimismo, apreensão, raiva, felicidade, euforia e otimismo de novo durante o jogo.

Acho que todo mundo que torcia pelo Flamengo passou por isso. Inclusive o Márvio dos Anjos, editor de Esportes, que é um cara que eu adoro e, só a título de curiosidade, faz parte de um grupo de WhatsApp comigo, o Troncal de Carnaval, em que sugerimos as boas do carnaval durante o período da folia e, nos outros meses do ano, enviamos memes, figurinhas e falamos de assuntos que vão de A a Z. Fecha parênteses. 

Depois do gol da virada do Flamengo sobre o River, fiz vários vídeos da minha comemoração com os repórteres que estavam de plantão na minha baia. E esse era o propósito. Curtição despretensiosa. De repente, três pessoas começam a correr pela redação na direção de onde eu estava. Foi automático. Mostrei o trio sem a menor maldade. Aquela cena me divertiu. O Flamengo tinha sido campeão. Eu estava feliz. Ponto. No meio da efusividade, não pensei que o ato “tirar a camisa” poderia soar tão mal para um editor. Juro. Mas soou. Copiaram o meu vídeo e, dias depois, por um coleguinha, descobri que a cena gerou milhares de comentários, curtidas e compartilhamentos nas redes sociais. Confesso que me assustei e fiquei preocupado, mas como a publicação no Twitter que me enviaram era do dia 27 de novembro, e eu soube em 2 de dezembro, achei que a poeira já tinha baixado. Mas pelo visto não.

E se a “obra” foi mesmo o vídeo que fiz, acho muito curioso só eu ser desligado da empresa, sem nem tomar uma advertência prévia. Logo de após o mês da Consciência Negra e de todo o debate que se levanta nesse período, o meu mês seguinte já começa assim. Para quem tem o mínimo de letramento racial, é impossível não racializar essa minha demissão. E não vim aqui culpar a empresa, nem a direção, nem o meu editor. A culpa não é nossa. Vem lá de trás. Da colonização. Só para se ter uma ideia, quando falamos que o Brasil já começou errado, quando os portugueses invadiram a nossa terra, já deslegitimamos a existência do povo brasileiro que aqui residia, cuidava da nossa natureza, era livre e feliz: os indígenas. Então, não começou errado. Começou certo. A história não pode ser contada a partir do momento em que homens brancos passam a fazer parte do contexto. Ela é maior e mais ampla.

E é esse olhar que eu quero que as pessoas tenham. Porque um país, uma empresa, um hospital, uma escola, um orfanato, um asilo, um mercado, uma redação, uma Polícia Militar e Brasília são feitos por pessoas. E se as pessoas não conseguem ter um olhar amplo sobre tudo, suas ações de modo geral nunca vão ser eficientes e, em alguns casos, bastante injustas, carregadas de conceitos e preconceitos, que nem pensamos na hora, porque fazem parte da estrutura sobre a qual a nossa sociedade se formou. É automático também.

Sou muito grato à empresa. Trabalhar no jornal O Globo, realmente, é um diferencial na carreira de qualquer jornalista. Dá um selo de qualidade, sabe? Fui muito feliz ali nos meus quase sete anos, fiz inúmeros amigos, não saio triste. E se eu puder dar um conselho: aumentem o número de profissionais pretos nos cargos de liderança. Entre os editores executivos, só há uma mulher preta, e que é incrível, diga-se de passagem. A diversidade não é bacana apenas no campo da discussão nem para mostrar que estamos antenados com o momento, em que a questão se tornou mais que urgente. A diversidade é a vida. E é preciso saber viver. A gente já canta isso! É só aplicar.

Se precisarem de mim para uma conversa pessoalmente, estou por aqui. Tenho muito carinho por todos da empresa e isso não vai mudar. E só para reforçar: o motivo desse meu pronunciamento não tem o menor intuito de difamar o jornal ou alguém. Em todas as lutas dessa vida, é importante que estejamos juntos. O inimigo nunca é o outro, mas certas formas de pensar, que levam a certas maneiras de agir. Juntos podemos ser mais fortes!”.

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